Sobre a falta que a gente sente

Falta. Faltam as coisas que eu devia ter feito, que eu devia estar fazendo, e que eu devia fazer no futuro. Falta informação na cabeça, coisa no currículo, falta até currículo. Falta a concretização de tudo aquilo que eu quero tanto ser. Falta escrever aquele livro genial, falta a certeza de que o que eu escrevo é bom o suficiente.

Quando tem ócio, falta sacrifício, quando tem só privação, falta motivo para continuar, e mesmo quando eu esqueço, o mundo continua  desigual e horrível. Tem que ler mais, malhar mais, estudar mais, pesquisar mais, é sempre mais e mais.

Falta a presença daquela pessoa, que é real ou não. E a vida só vai ser vivida, o mundo só vai girar, quando ela estiver aqui. Ou parecer estar aqui. 

Falta qualilidade para esse texto de uma autora tão inexperiente, falta dar mais exemplos, de mais áreas, falta englobar tudo, entender tudo, fazer tudo. Falta. 

E eu sinto muito se faltou falar da sua falta. Mas acaba que a ausência disso dá sentido para o seu comentário que me conta dela. Eu procurei a satisfação plena em tudo que eu conheço, e não a encontrei. Eu continuo aqui, sozinha, no meio da bagunça que é o começo da construção da casa que eu estou fazendo para mim mesma.

Mas eu também percebi que quando a gente faz algo diferente, qualquer coisa, pequena ou grande, vem uma nova consequência, também diferente. E eu simplesmente não posso ter a casa pronta se não fizer alguma coisa com o primeiro dos tijolos. Tudo depende desse único e aparentemente insignificante tijolo. 

E depois vêm os outros, um de cada vez, e depois a escolha do piso, a pintura de cada parede, cada passo com uma dificuldade diferente. Eu ainda vou passar muito tempo numa casa incompleta, até que ela fique pronta. 

E aí a comida vai acabar, a máquina de lavar vai estragar e os azulejos do banheiro vão me deixar com raiva por me lembrarem daquelas horríveis discussões. Vai ser uma coisa de cada vez, até que morar ali não faça mais sentido, e eu queira me mudar. 

Mas tudo isso, tudo mesmo, depende daquele único e nada insignificante tijolo. 

Comentários

  1. A casa nunca está completa, e está tudo bem. O caminho é mais divertido que o destino.

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