Alguém como você
Passando pela porta da escola, sigo na direção do caminho para casa, desviando de dezenas de pessoas imersas em seus próprios grupos. De todos os rostos conhecidos, apenas um sempre me cumprimenta. O dia está ensolarado, mas isso não me anima. Virando as esquinas, me sinto andando em linha reta, e o que me ameaça não são os outros soldados, mas as bombas que atravessam esse campo minado, que termina… bem, num abismo. Ou pelo menos é o que ele parece ser, há 2 anos de distância.
Será que eu sou mesmo esquisita? Será que eu deveria começar a lavar o rosto mais frequentemente, para diminuir as espinhas? Ou acordar mais cedo, para arrumar o cabelo? Ou talvez os dois? “Ahh, eu só queria que você estivesse aqui”, é o que eu penso. Mas para isso você teria que existir, Grande Amor da Minha Vida / Ator Pelo Qual Tenho um Crush.
Então chego naquela parte do caminho em que já não vejo os outros e somos só eu e a minha vontade de você, andando debaixo de algumas árvores. Começo a lembrar do comentário que um amigo fez sobre eu ser vegana, e que eu devia ter optado por parar por um minuto, e tentar fazê-lo perceber que talvez o veganismo seja a melhor opção, mas que ele pode começar aos poucos.
Também penso em como queria ser aquela menina da minha sala que tirou uma nota mais alta que o Michael Jordan na última redação e sobre como eu gostar tanto de Física e poder usá-la como fortaleza, implica em estudar a parte dela que eu odeio, quando chegar em casa.
É nesse momento que você aparece, dessa vez de verdade, sorrindo para mim no fim da esquina. Você sabe de tudo que tem passado na minha cabeça, e me ouve, mas não responde, talvez sem saber mais como me fazer parar de pensar em coisas tão incertas. Mais tarde, quando conversamos sobre você, e suas próprias incertezas, você diz que eu sou linda, e que isso faz sua vida melhor.
No fim de semana, você conversa comigo sobre como as pessoas já ganharam muita consciência acerca da importância de respeitar outras pessoas, mas não pensam sobre as vidas não humanas que também sofrem. Além disso, ri quando eu digo que acho que, muito mais moralista do que alguém que não come animais, como se achasse que por isso tem mais chance de ir para o céu, são os “ratos de academia” que condenam quem não vai a todos os treinos e come doce.
Então você me diz “acho que vou fazer uma Segunda-feira Vegana”. Depois elogia um texto que escrevi e me pede para explicar o surgimento da chama da vela novamente, como pediria a uma criança para falar sobre dinossauros. No elevador, quando você está prestes a ir embora, te dou um abraço enquanto você se olha no espelho, e elenco todas as suas características que te fazem lindo de morrer. Sinto como se tudo estivesse onde deveria estar, e que de fato, embora nem sempre as pessoas reconheçam as coisas boas que tenho em mim, há alguém, além dos meus pais, que reconhece.
Honestamente, prefiro ter essas fantasias ensolaradas que me fazem rir no meio da rua, antecedendo os momentos em que me obrigo a estudar em casa, do que duvidar da beleza e da virtude que eu sei que existem em mim, e que um dia serão reconhecidas por alguém como você.
é tão incrível como pessoas apaixonas pensam, eu adoro a poesia q vc faz quando fala do amor, mesmo sendo textos ou pensamentos. Amo ler oque você escreve e me identifico
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