O importante é que te entendem

Alana havia se mudado de uma cidade do interior da Bahia para Curitiba, e estava muito animada para conhecer sua nova escola. Na dinâmica proposta para que os alunos se conhecessem, ela prestou muita atenção nas histórias dos colegas, mas desde que falou pela primeira vez, muitos deles passaram a rir das expressões que ela usava e de seu sotaque, classificando-o como "diferente". Passados alguns meses, essa "diferença" fez com que Alana não tivesse amigos e ficasse reclusa, sem responder às perguntas dos professores, ou conversar com os outros alunos, por ser sempre tratada com indiferença e, às vezes, impaciência, como se os irritasse.

Por volta da metade do ano, a professora de Física foi substituída por outra, chamada Marina, que também era baiana. E a chacota durou apenas uma aula. Num primeiro momento os estudantes começaram a rir e fazer piadas, baixinho, e Marina, que tinha uma excelente audição, perguntou para um deles se ele já tinha usado uma pena para escrever. O garoto estranhou, e respondeu que não. "Bom, então nesse caso, se você não usa seu estojo para guardar uma pena, ele não é um penal. E ninguém está te julgando por não ser totalmente coerente, acadêmico, ao se comunicar. O importante é que te entendem, não é?", questionou a professora.

A partir daí, todas as aulas de Física tinham pelo menos um momento em que Marina devolvia as observações na mesma moeda e, aos poucos, os alunos foram compreendendo que a língua é apenas um aspecto cultural, e até começaram a conversar mais com Alana, que entendeu que o problema nunca fora seu sotaque.


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