A última crise existencial

Não sei bem por que razão 1. estou viciada em preciosismo, já que esse texto poderia ter começado com um simples "não sei por que" e 2. há semanas que quero escrever isso, mas acho que você já não se interessa mais em ler, em um veículo arcaico, os textos sempre sobre os mesmos assuntos de uma típica adolescente dramática. 

Talvez você não se interesse em ler coisa alguma, na verdade. Eu mesma não me interesso. Fazem muitas semanas desde da última vez que li um livro, cuja leitura me foi imposta pela escola. E é nesse clima gostoso, de prosperidade, que encho sua cabeça com o mesmo assunto, mais uma vez. 

Crises existenciais. Tudo começou quando eu estava reclamando de já nem me lembro o que, no mesmo caderno em que escrevi a primeira versão desse texto aqui, e disse que afinal não era o fim do mundo, porque ele só acaba quando eu morrer. Foi quase um insight, a vida sempre continua, mesmo que você não queira, e ultimamente tenho pensado muito em como eu quero que ela pare um pouco. 

Às vezes é muito difícil acreditar que vai passar e, principalmente, que o sentimento também vai passar, porque as situações mudam mesmo, mas e quando a gente fica apático, sem ver sentido em sair da cama? A gente se envolve. Muito. E é só por toda essa dedicação que você chega ao fim, ao esgotamento. 

Tim Bernardes, vocalista da banda O Terno, tem um álbum solo chamado Recomeçar, que representa esse processo quase como um musical, em que cada música traz o sentimento de limitação, ou vazio mesmo, em diferentes áreas, seja a metafísica, o término de relacionamentos ou nossa indignação com os problemas sociais, e conclui com a proposta de conhecer a si mesmo (acredite, essa é sim a chave), do recomeço. 

Assisti uma entrevista em que Tim, comparando o Recomeçar com seu novo álbum, que é mais positivo, com temas mais variados, e diz que vê o processo de lá para cá não como uma evolução em linha reta, ou um ciclo que se repete, em que Mil Coisas Invisíveis seria o pico de felicidade, sendo em breve substituído pela tristeza novamente, mas como uma espiral, em que ele de fato sempre transitasse entre os polos, mas com uma perspectiva diferente a cada vez.

Quando entendemos isso, surge a questão: será nossa atual perspectiva a melhor de todas? Para mim, depende. É ela a que nos favorece? Porque vivemos num mundo caótico, sem tanta liberdade assim (quase nada), criado e executado ainda hoje por outras pessoas, em decorrência do porque sim. 

É chato, eu sei, é muito melhor sentar e esperar que alguém resolva nossos problemas e execute nossos projetos por nós, mas 1. na prática isso é impossível e 2. cairíamos numa prisão, por sermos os únicos que mais sabem quem somos e o que queremos de verdade. No fim, tudo de que preciso nesse momento, já está aqui, e se contentar com a solidão não é não sentir falta, e sim acreditar que uma hora vai passar. 

Eu já escrevi aqui o quanto me incomoda o fato de sermos apenas humanos vivendo humanidades, mas qual é, o que eu sei sobre não ser humano, sobre as reais preocupações sufocantes da vida adultas e a complexidade do mundo? Esse próprio reconhecimento da minha ignorância poderia gerar mais preocupação, mas a ignorância não é uma dádiva? 

Por tudo isso, declaro encerrada a minha admiração à relatividade da vida. Ou pelo menos a minha fixação por ela. Agora, se me permite, tenho algumas listas a fazer. Livros para ler até o final do ano, novos temas para o blog, vídeos sobre escrita para assistir, ordem das tarefas a serem executadas durante o dia (também conhecida como rotina), conteúdos para estudar. 

E você, para onde vai?

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