Eu não tô nem aí se eu não sou especial

Ontem à noite aconteceu uma coisa engraçada. Eu deitei na cama sem estar com muito sono, e fiquei pensando na vida, tentando resistir à tentação de sair dali. Não deu certo, resolvi escrever. Relatei memórias e fantasias em que, supostamente, me senti viva, parte do jogo. 

Então me perguntei, provavelmente pela quinquagésima vez, se eu nunca deveria ter terminado meu relacionamento. Porque ele tem tantas qualidades, porque sempre concluo que nenhum de nós é melhor que o outro, somos apenas diferentes, e porque já me disseram que as pessoas podem mudar umas pelas outras. 

Mas é muito estranho, porque eu nem ao menos me sentia confortável quando estava com ele. É a premissa básica, talvez seja a única coisa necessária pra que eu ficasse, e ela não existia. 

O que me deixa amargurada é pensar que eu talvez tenha perdido uma chance de me sentir viva, porque na minha cabeça, estar namorando uma pessoa (que, "ainda por cima", é tão legal), é viver, ter o direito de fazer as coisas. 

Mas qual é o sentido? Me imagino num dia ensolarado de janeiro, numa festa com piscina, ouvindo um sertanejo e tomando uma coca, mó vibe, então eu olho pra ele, e sinto aquela… amargura? Como se ele tivesse tudo pra ser "a pessoa", a pessoa que ficasse, meu carinho, meu porto seguro, mas não é. Que aquilo não me compreende, eu não me conecto, não admiro nada, não vejo sentido. 

Achei que o texto terminaria com melancolia, que era uma pena que aquilo tudo não fosse acontecer, mas também um alívio, e tudo continuaria igual. Parei de escrever, pensei um pouco, e depois voltei, dizendo o seguinte:

"Ai, tudo isso é tão bobo, que bom que você se foi. E se eu acho que não mereço fazer as coisas por mim, ou que não consigo, que tem que ser outra pessoa, que porcaria é essa? Eu não tô nem aí se eu não sou especial, não é você que tem que me aguentar o dia inteiro. Eu não morri porque terminei com uma pessoa que não me complementava. Muito pelo contrário. Aaah para. Eu não tenho problema nenhum com a minha pessoa e se o problema é falta do que fazer, que seja, vamos procurar outra coisa, então. Julia, eu gosto muito de você, e te respeito, mas é exatamente por isso que não posso te proteger do mundo. Isso nem é proteção, é privação. Já chega. Não importa quantas vezes eu precise repetir: daqui pra frente, a vibe só cai quando a coisa for séria. Quando sentirmos, lá no fundo, que é sério."

Isso foi o suficiente pra que eu fosse dormir tranquila. E eu ri muito. Ri porque foi uma quebra de expectativa, eu estava melancólica, mas isso me paralisa, estou sempre com a cabeça em outro lugar. Existem tantos problemas piores do que esse, e veja bem, eu não estou dizendo que meus sentimentos são besteira. É só que eu sinto, lá no fundo, que não há nada a ser feito, que seguir em frente só depende de mim, e que escolher voltar no assunto, escolher focar na melancolia, é fazer a coisa mais fácil. 

Existem casos e casos, então se você está se sentindo triste, dê atenção pra isso, mas no meu caso, eu sei muito bem que tomei a melhor decisão, então pra que continuar sofrendo?