Quando tem muita coisa mas nada é suficiente
Uma coisa engraçada que pode acontecer ao entrar em contato com desafios é você simplesmente se recusar a enfrentá-los. Eu constantemente acho que tem alguma coisa errada mas nunca faço nada para mudar isso. Me dá vontade de correr, fugir dessa sensação de cobrança, porque eu acho isso mais fácil do que colocar as coisas no lugar.
E isso acontece o tempo todo, em casa e na escola. Quando eu considero aquilo importante e acho que vai ser muito difícil, que eu vou ter que me expor, eu penso em mil coisas. Se um professor nos pede para escrever um texto e depois apresentá-lo para a turma e eu entendo a importância do tema e constato que poderia falar muita coisa sobre ele, eu me imagino poderosa, com todas as habilidades que eu sei que tenho, desenvolvidas. Mas depois penso que eu não sei explicar tudo direito, que preciso pesquisar mais e que vai ser difícil, vai demorar, eu posso acabar perdendo o foco e… eu não vou conseguir.
Aí eu chego em casa, pego meu fone de ouvido e me tranco no banheiro, deixando minhas responsabilidades para depois. Quando saio, meus pais me chamam atenção por alguma coisa que eu deixei de fazer e eu me sinto mal, vou fazer o que tenho que fazer, mas perco o foco, demoro demais e acabo dormindo muito tarde. Eu durmo demais, chego atrasada na escola e começa tudo de novo. Uma coisa leva à outra, é um ciclo vicioso.
Tem sido muito difícil conversar com outras pessoas. Quando eu começo a falar alguma coisa, logo me vem a ideia de que pode ser besteira e eu não termino meu raciocínio. As pessoas mais próximas de mim já me falaram que eu não consigo conversar, me abrir. Acho que é porque sinto que se eu me abrir tanto assim, as pessoas vão ver que eu posso estar errada e eu vou achar que elas estão me vendo como má ou fútil e eu não posso deixar isso acontecer. Tenho que permanecer o mais neutra possível, pois não posso perder ninguém.
Eu acabei ficando meio apática, não consigo fazer nada que eu quero porque o medo de falhar me paralisa. Tem tanta coisa que eu queria fazer, mas as chances de dar errado sempre parecem maiores. Tudo é grande, difícil, maior que a mim.
Acho que, em algum nível, você também sente isso. Mas talvez tenha achado que eu tô exagerando (principalmente se você for adulto) e realmente, eu sou muito privilegiada e a procrastinação é um problema meio fútil se comparado com os outros tantos do mundo, mas a gente não precisa questionar a legitimidade dos nossos sentimentos e isso tá realmente me atrapalhando.
Uma coisa interessante, que minha mãe sempre me diz, é que a religião é muito importante para dar esperança para as pessoas. Esses dias eu li um texto que dizia que Deus não manda ninguém para o inferno, só vai para lá quem quer. Isso deve ser muito reconfortante para quem acredita em Deus e inferno, porque nesse caso, por piores que as coisas que você faz sejam, Deus te perdoaria. Talvez você não acredite nisso, mas só achar que depois da morte a gente vai para algum lugar, qualquer lugar, e que sempre haverá alguém ali com você, já é usar a religião para ter esperança.
Assim concluímos que para seguir em frente precisamos acreditar em alguma coisa. Isso pode até ser óbvio, mas sinto que é a primeira vez que eu vejo isso na prática. No entanto, fica muito difícil acreditar em alguma coisa quando você fica tentando subverter tudo. Por isso, depois de muitas conversas com a minha mãe, vídeos do Ludoviajante e situações em que me vi paralisada, entendi que é preciso reagir. Tentar pensar somente o necessário para que você tome uma decisão e sinta que ela foi minimamente consciente. A gente nunca vai ter certeza de nada, então vamos apenas tentar achar uma solução provisória.
Vou terminar te falando a mesma coisa que a minha mãe me falou na mais recente das nossas conversas: passe por cima dos problemas como uma carreta. Se não, são eles que passam por cima de você.
Juliaaaaa, perfeito de vdd!! Amo vcc❣️
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